ADNICIO BORTOLATTO

                     (Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil)

Nasceu em 20/01/1938.  Bancário. Pintor nas horas de lazer.
Reside e trabalha em Caxias do Sul. 

BRASIL LITERÁRIO. Coordenação Editorial: Maria Almeida.  Capa: Maria Bastos.  Rio de Janeiro: Crisalis Editora, 1985.  103 p.  13 x 20 cm Cultural, 2014.   s. p.  Edição espiralada.    ISBN 978-85-63464-11-8 Ex. bibl. Antonio Miranda.  Doação do livreiro Jose Jorge Leite de Brito, em 2021. 

B R I S A

Como povoas os corpos ressequidos,
cansados de guerra!
Contemplai-os!
Lançados por terra
pelos projéteis atrozes,
tu vens sorrateira
com um sabor maternal.
refazer-nos dos vendavais.

No sertão ainda és pura,
nos mares mais alegre
sempre a bailar.
Tua pureza, todavia, às vezes,
é disvirginada pela violentação dos insanos
com seus gestos profanos,
ousam te violentar.

Teu colorido no espaço,
veste-se de todos os matizes
e como bruma de verão,
grande é teu sabor de mar.

Encrespas as ondas das águas,
despenteias os longos cabelos
que se soltam a teu sabor;
tudo isso é amor
que nem sempre é compreendido,
mas tu num terno gemido,
consegues tolerar;
os que voam em tuas asas,
sobem contigo ao luar.

AS MELHORES POESIAS DO 1º. CONCURSO ONESTALDO PENNAFORT.  Prefácio de Eliezer Bezerra. Brasília, DF:  FEBAB, 1984.  89 p,  15 x 21 cm.   No. 10 189
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo
(livreiro) Brito, em outubro de 2024.

MENÇÃO HONROSA:


A NOITE DE CADA UM

Teatro de fogo e ferro,
brilho de pérola e pólvora,
explodindo reluzente
no riso da violência
como um colar de frias conchas
vestindo um deserto de festa
na enfadonha comemoração
de alguma vitória indigesta.

Gritos, lamúria e tormentos,
descrevendo uma viagem louca.
Canção triste de alguma boca
que se contorce num último grito
rasgando a limpidez do infinito
e se perdendo nos ventos.

Tiros, rezas e guerras
como feras a rugir;
cada um correndo, correndo,
sem ter para onde ir
e no abismo se perdendo,
e nas promessas de algum líder
alguma esperança morrendo.

Sangria de nossos sentidos
sufocados de celebridades
no palco de uma luta inglória.
Vem a fama e vem o tédio;
extenuante, os rugidos silenciam;
na hora crepuscular,
a desesperança se expande
para emergir na aurora
e se diluir no amanhã incerto.

Sonho ébrio nas ruas,
envolto nas madrugadas sem Deus.
Escaldante sol do deserto nas almas,
ruindo a calma, convertida em mentiras,
como frugal moeda perdida
no roto bolso do mendigo.

Velocidade e gozo,
tempestade da meta,
limitada pelas rugas das desventuras,
que impiedosas
as tristes faces sulcam
dos que velhos não querem ficar.
Melancolia no olhar,
sem saber se vai ou se vem
ou se deve retornar
à sua paragem distante,
seu mais seguro lugar.

Contínuo revezar
da guarda do tempo,
na continência ocasional dos famintos, 
existentes como seres desprezíveis,
dentro da noite de cada um de nós,
a nos desafiar com seus passos sem rumo.

Trombeta de batalha,
anúncio de jornais,
elenco dramático, falando de paz:
lamentações profundas,
mergulho nas nossas entranhas,
quanta dor, que dor tamanha
e quanta barganha
ainda temos que implorar!

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Página publicada em julho de 2021